Além da mídia social

O acesso à internet não consta nos Direitos Humanos, mas deveria

Há semanas acompanho as notícias sobre um número sem precedentes de refugiados e migrantes tentando chegar à Europa. Situação que tem exigido mobilização humanitária mundial.

Quando veiculadas fotos dos imigrantes sírios – os vivos, pois mais de 1.800 morreram este ano – acessando seus smartphones e enviando notícias aos seus familiares, presenciei alguns comentários nas redes sociais no estilo:

“Tem iphone e diz que é refugiado.”

“Refugiado usando zapzap. Só pode ser terrorista.”

“Os caras cruzam o Mediterrâneo usando o Googlemaps e eu tentando chegar ao trabalho com o Waze.”

“Refugiado com celular? Me tira do Brasil,  Alemanha!”

“Acho que os imigrantes estão roubando meu sinal 3G.”

Sem entrar no mérito da desumanidade dos comentários – e do fato da internet, segundo Javier Marías, ter organizado a imbecilidade humana –   ou da imagem preconceituosa de que todo imigrante é economicamente desprovido de recursos e intelectualmente inferior à média mundial, uma questão que me salta aos olhos é: por que mantemos o preconceito e ainda acreditamos que o acesso à internet é um privilégio de pessoas ricas que vivem na paz de seus condomínios?

Acreditar que o acesso a internet é direito garantido apenas para alguns é um pensamento ultrapassado e limitador do desenvolvimento social e humano em qualquer parte do mundo.

Como a internet promove o desenvolvimento da condição humana

Após mais de três anos de discussão, os Estados-membros das Nações Unidas aprovaram, por consenso, uma nova agenda de desenvolvimento global: “Transformando Nosso Mundo: A Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável”.

A Agenda é um plano de ação para as pessoas e para a prosperidade do planeta. Segundo a ONU, é uma iniciativa que busca caminhos para a paz universal com mais liberdade, e reconhece que a erradicação da pobreza em todas as suas formas e dimensões, incluindo a pobreza extrema, é o maior desafio global ao desenvolvimento sustentável.

A estratégia, válida para os próximos 15 anos, é construída em torno de 17 grande objetivos que buscam acabar com a pobreza, impulsionar a prosperidade e o bem-estar dos cidadãos e proteger o meio ambiente.

E o que isso tem a ver com a internet e ao acesso à ela?

Tudo.

Os 17 Objetivos do Desenvolvimento Sustentável

Os 17 Objetivos do Desenvolvimento Sustentável

 

Apenas dois objetivos trazem o acesso à internet diretamente correlacionada à suas metas:

Objetivo 9

Construir infraestruturas resistentes, promover a industrialização inclusiva e sustentável e fomentar a inovação

9.c aumentar significativamente o acesso às TIC, e procurar ao máximo oferecer acesso universal e acessível à internet nos países menos desenvolvidos, até 2020

Objetivo 17

Fortalecer os meios de implementação e revitalizar a parceria global para o desenvolvimento sustentável

17.8 operacionalizar plenamente o Banco de Tecnologia e CTI (Ciência, Tecnologia e Inovação) mecanismo de capacitação para os países menos desenvolvidos até 2017, e aumentar o uso de tecnologias de capacitação, em particular das TIC

Mas se analisarmos o documento Os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS),  todos os 17 grande objetivos e 169 metas – envolvendo temáticas diversificadas, como erradicação da pobreza, segurança alimentar e agricultura, saúde, educação, igualdade de gênero, redução das desigualdades, energia, água e saneamento, padrões sustentáveis de produção e de consumo, mudança do clima, cidades sustentáveis, proteção e uso sustentável dos oceanos e dos ecossistemas terrestres, crescimento econômico inclusivo, infraestrutura e industrialização, governança, e meios de implementação – dependem, de algum modo, do acesso à internet principalmente dos países em desenvolvimento.

Acredito que a possibilidade de expansão de uma educação de qualidade e compartilhamento de informações, experiências e dados científicos são os principais potenciais da internet para o salto de desenvolvimento de todos os países, permeando todos os ODS.

Dados da internet.org mostram que, no mundo,  somente 1 em cada 3 pessoas conseguem acessar a internet, enfrentando os desafios:

  1. Os dispositivos são muito caros.
  2. Os planos de serviços são muito caros.
  3. As redes móveis são poucas e distantes umas das outras.
  4. Conteúdo não disponível na língua local.
  5. As pessoas não têm certeza do valor que a Internet trará.
  6. Fontes de energia são limitadas ou caras.
  7. As redes não suportam grandes quantidades de dados.
  8. Juntos, podemos quebrar essas barreiras e dar à maioria desconectada no mundo o poder de se conectar.

Esse cenário tem que mudar e é bom começarmos com o nosso preconceito.

 

Indico para leitura:

How technology can help elevate the human condition

 

 

Maíra Moraes

Maíra Moraes

Flipboard

Doutoranda em Comunicação e Sociedade na Universidade de Brasília (UnB), pesquisa as relações de poder implicadas no processo de produção de notícias e como as realidades são construídas por meio de narrativas e práticas dominantes. É gerente de projetos certificada PMP®, especializando-se na implementação de metodologias híbridas (presencial e a distância) de educação em redes públicas estaduais e municipais.

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