Esta semana me vi diante de uma crise de consciência, dessa vez, vinda das redes sociais.
Li a postagem de um amigo criticando o Manifesto de repúdio ao aplicativo machista da HBO Brasil sobre o seriado Game of Thrones.
Já li muito sobre esta série, mas nunca vi um capítulo. O que destaco aqui é o fato da HBO criar um aplicativo em que apenas pessoas que definiram seu gênero como “masculino” no Facebook podem acessar. Femininos declaram a atitude sexista, meu amigo declarou-se cansado de mimimi: “apenas parem… em alguns casos um charuto é só um charuto!”, escreveu.
Minha crise de consciência nasceu do fato de que eu, durante alguns segundos, cheguei a concordar com ele. Procurei saber mais sobre o que os outros pensavam e me deparei com tuites do tipo: “Manda esses fãs lavar uma louça” e “nossa a galera dando chilique pqo GoT fez um app da patrulha da noite e quando as minas tentam acessar são barradas kkkkkk”.
Passada minha crise e tomada uma posição, entendo que não ter acesso a um aplicativo no Facebook por uma questão de gênero é sim um ato discriminatório. E nessa guerra de sexos, o que mais me preocupa é, de um lado o entendimento de “normalidade” dessa discriminação por parte de internautas e, de outro, o desenho de um mundo em que exigir seus direitos seja categorizado como #mimimi.
Direito à igualdade é um Direito Humano. Falar o que pensa também?
Devemos sim, expor nossa insatisfação. Ofensa grande, ofensa pequena (seja lá o que os tamanhos significam) ou insatisfação.
É bom lembrar que vivemos no Mundo Moderno (ou Mundo Contemporâneo para o #mimimi filosófico de plantão). Para quem esqueceu, ou nunca leu, os direitos humanos podem ser resumidos de uma forma bem simples: direitos à vida, à integridade física e moral, à igualdade, à liberdade de pensamento, de expressão, de reunião, de associação, de manifestação, de culto, de orientação sexual, à felicidade, ao devido processo legal, à objeção de consciência, à saúde, educação, habitação, lazer, cultura e esporte, trabalhistas, ao meio ambiente, do consumidor, a não ser vítima de manipulação genética.
Seguindo essa linha, eu, Donzela (segundo o aplicativo) tenho o direito de fazer parte da “Patrulha da Noite”. Me chamar de sexista e me mandar lavar a louça é seu direito?
Somos nós plenamente livres para falar o que quisermos, sobre quem quisermos e da forma que bem entendermos, seguindo o Artigo 19 da Declaração dos Direitos Humanos, “toda pessoa tem direito à liberdade de opinião e expressão; este direito inclui a liberdade de, sem interferência, ter opiniões e de procurar, receber e transmitir informações e idéias por quaisquer meios e independentemente de fronteiras”?
A resposta está na reflexão sobre o fato do ser humano viver em sociedade.
Há fronteiras para o exercício da liberdade de expressão, que não é absoluta e baseia-se no caráter societário dos indivíduos:
O exercício dessas liberdades pressupõe diversas responsabilidades e, por conseqüência, pode estar sujeito a certas formalidades, fixadas por lei e que sejam necessárias à segurança nacional, da integridade territorial, da segurança pública, da defesa da ordem e prevenção contra o crime ou para proteger a saúde ou a moral, a reputação ou os direitos dos outros, impedir a divulgação de informações confidenciais ou para garantir a autoridade e a imparcialidade do poder Judicial.
É nesse contexto que destaco a ação do #HumanizaRedes. Aqui não estou baseando minhas ideias na bandeira de defesa das minorias, defendo a construção de redes sociais virtuais com base no que nos garante sair de casa diariamente no mundo real: confiança no respeito às diversidades – de opinião, religião, gênero, time de futebol e de tudo o que nos faz indivíduos.
Educação para os Direitos Humanos
Toda discussão voltado ao tema Direitos Humanos parte de um ponto essencial que é o aprendizado contínuo e global. Uma educação necessariamente voltada para a mudança, de coração e mente abertos.
Comecei este artigo me referindo a uma crise de consciência com cheiro de burguesia: meninas com dinheiro para terem HBO e que jogam aplicativos no seu smartphone. Mas esta questão me inquieta tanto quanto ouço amigos dos mais variados gêneros relatarem situações de assédio moral as quais são submetidas em seus empregos ou de publicidades com a que tratei no artigo Gol, Huck, Sabrina e o sistema educacional brasileiro.
Precisamos sim falar de humanização no mundo e as redes sociais, ao meu ver, tornaram-se mais do que ferramentas. Tornaram-se estratégias para este diálogo online e offline, por isso considero a criação do #HumanizaRedes um grande passo para a educação para os Direitos Humanos.
#HumanizaRedes
Segundo o site oficial, o Humaniza Redes – Pacto Nacional de Enfrentamento às Violações de Direitos Humanos na internet é uma iniciativa do Governo Federal de ocupar esse espaço usado, hoje, amplamente pelos brasileiros para garantir mais segurança na rede, principalmente para as crianças e adolescentes, e fazer o enfrentamento às violações de Direitos Humanos que acontecem online.
O programa é movido em três pactos:
Pacto pela Denúncia
Além do Disque 100, o canal já conhecido para denunciar violação de Direitos Humanos, a SDH lança agora, com a iniciativa do Humaniza Redes, sua Ouvidoria Online, como mais um serviço de atendimento à população. Esse canal, firmado em parceria com entidades provedoras de aplicações e aplicativos, vai mapear e apurar denúncias ocorridas online, que serão encaminhadas à Ouvidoria Nacional de Direitos Humanos, à Ouvidoria da Igualdade Racial e à Ouvidoria da Mulher, dependendo de cada caso, e com especial atenção à proteção de crianças e adolescentes.
Pacto pela Prevenção
O objetivo do Humaniza Redes, além de oferecer o serviço de atendimento as denúncias online, é construir um ambiente seguro e livre de violações de Direitos Humanos, de preconceitos e discriminação a quem acessa a internet.
Pacto pela Segurança
Como cada vez mais pessoas usam a internet diariamente, e a maioria desses usuários é composta de jovens de menos de 25 anos, é fundamental que seja construído um ambiente livre de violações e seguro, principalmente para as crianças e jovens. Crimes como pedofilia e o pornô de vingança não podem mais estar presentes no cotidiano de quem acessa a internet. Por isso, o Humaniza Redes vai zelar pelo uso responsável da internet e aplicativos, com a divulgação de dicas de segurança aos usuários da rede, com apoio de entidades provedoras de aplicações de internet, que ampliarão suas iniciativas de promoção de um ambiente digital legal e seguro, que contribua para a construção de uma sociedade inclusiva, não discriminatória e livre de abusos.
O Jornal Zero Hora produziu um artigo que explica passo-a-passo como usar o canal, que também pode ser encontrado no Facebook.
Ah! Quer saber o que eu acho da estratégia da HBO e do aplicativo? Acho que a Gabriela Trezzi, construiu uma ótima lógica: