Com o passar dos anos tive a oportunidade de me deparar com quase toda sorte de consultas sobre como utilizar a internet para fazer negócios. A internet, se bem aproveitada, pode dar um belo incremental nos ganhos de uma empresa. Contudo, como é uma questão de investimento, raramente um empresário tem a visão dos custos e com isso acaba fazendo bobagem na hora de investir.
O mito da página no Facebook
Quando falamos em marketing de conteúdo (content marketing) na internet, uma das piores ideias que alguém pode ter é concentrar todos os seus esforços em fanpages. Acredite, há “responsáveis” pelo marketing de empresas de todos os portes que cometem esse erro.
A guerra estúpida pelo aumento de “likes” faz vítimas frequentemente. Todo santo dia um desses gerentes ou diretores resolve que o concorrente é melhor porque investiu um bom dinheiro em anúncios no Facebook e destina investimentos que deveriam ser aplicados na produção de um bom conteúdo para uma conta de publicidade.
Esse negócio de ter um milhão de amigos não funcionou nem na música “Eu quero apenas”, do Roberto Carlos. O resultado é sofrível. Raramente uma página anabolizada com anúncios consegue um bom índice de engajamento. Geralmente uma dessas páginas com cerca de um milhão de fãs não consegue mais do que 500 compartilhamentos em uma publicação.
Muito provavelmente, se houvesse um trabalho apenas com os funcionários dessa empresa, o número seria muito maior. Mas isso é bobagem, bom mesmo, na cabeça de um gestor é mostrar que tem mais fãs do que o coleguinha. Voltamos ao primário!
Um ponto muito importante no marketing de conteúdo é uma coisa que chamo de “encontrabilidade”. Eu sei, esse termo não existe, eu criei. Traduzindo: qual a chance de determinado conteúdo ser encontrado por alguém que está procurando por ele?
O mecanismo de busca do Facebook é pífio, a indexação nos mecanismos de busca inexiste. Se levarmos isso em consideração, utilizar a rede social para divulgar ações que não estejam ancoradas em outro lugar é como atirar pedras em um lago para ver as ondas que se formam. Após o processo de compartilhamento dos fãs, o conteúdo praticamente desaparece.
Diante do exposto, faz algum sentido investir em conteúdo baseando sua origem no Facebook? Qualquer estagiário de marketing sabe que não! Mas e então, o que fazer? A resposta é simples. Utilize um blog para publicar o conteúdo e dissemine através do Facebook, Google Plus e Twitter, sempre adaptando a linguagem para o canal.
Ok, já entendi, mas e “quanto custa o marketing de conteúdo para o meu negócio”?
Essa pergunta não é muito simples de ser respondida. Mas vamos ao trabalho que produzir e disseminar conteúdo dá e depois aos custos envolvidos.
Quanto custa uma publicação?
Um texto minimamente consistente para internet deve ter entre 500 e 1000 caracteres, utilizar palavras procuradas pelas pessoas em mecanismos de busca, estar relacionado com outras publicações, mostrar um bom domínio da língua portuguesa e possuir informações relevantes. Temos nesse processo:
Tarefa | Tempo (em minutos) |
Pesquisa de keywords (palavras buscadas) |
15 |
Pesquisa de tema (outros conteúdos relacionados) |
30 |
Redação |
30 |
Adaptação de SEO (políticas para mecanismos de busca) |
10 |
Desenvolvimento visual (fotos ou gráficos) |
60 |
Revisão |
15 |
Adaptação para canais (blog, Facebook, Google Plus e Twitter) |
30 |
Aprovação |
10 |
Relatório (tirar prints e catalogar) |
5 |
Total |
205 |
Sim, produzir e disseminar um conteúdo toma 205 minutos, quase 3h30 de um produtor de conteúdo. Vamos simplificar e utilizar a base de 3h para a tarefa.
O preço dos salários varia muito no Brasil. Em São Paulo, um produtor de conteúdo mediano recebe cerce de R$ 2.500,00. Com os impostos, décimo terceiro e férias, o custo chega a ser o dobro para o empregador. Os R$ 5.000,00 divididos por uma jornada de 176 horas mensais dão R$ 28,40 por hora. Chegamos então a R$ 85,20 por um bom conteúdo.
Agora, como todo mundo sabe, não existe almoço grátis. O preço cobrado por uma agência é uma composição de custos, impostos, investimentos e lucro. Arredondei alguns percentuais para facilitar a compreensão, acompanhe o raciocínio:
Custo da mão de obra |
85,20 |
Despesas administrativas (15%) |
12,78 |
Fundo de reserva/investimentos (10%) |
8,52 |
Markup (32%) |
34,08 |
Impostos (20%) |
28,12 |
Total |
168,70 |
Lucro líquido |
20% |
Pois é, para um total de R$ 168,70 por texto produzido, sobra a incrível quantia de R$ 34,08 para a agência. Note que não estou falando sobre um texto básico de Facebook, o custo aqui é para algo que valerá a pena para o cliente.
Qual o volume de conteúdo meu negócio precisa?
Chegamos então a questão da quantidade de publicações que uma empresa ou marca deve ter. Segundo diversas pesquisas realizadas, é melhor ter um bom conteúdo por dia do que ficar publicando quatro ou cinco conteúdos superficiais.
O mínimo que recomendo para uma presença corporativa são três conteúdos semanais, o que dá doze conteúdos mensais. Se um conteúdo custa R$ 168,70, doze custarão R$ 2.024,40.
Caso o empreendedor queira um conteúdo por dia útil, a conta sobe para R$ 3.711,40 mensais.
Tempos atrás escrevi um artigo onde comparei os custos de produção de conteúdo com outros meios.
Conclusão: o bom nunca é barato e o barato costuma sair caro
Noto que há um grande número de agências ofertando “gestão de mídias sociais” por valores irrisórios. O que me leva a crer que essas empresas não pagam impostos ou contratam mão de obra muito barata.
Não considerei como custo a tarefa de planejamento editorial e nem monitoramento, me foquei apenas na simples produção de conteúdo, coisa que cabe apenas para micro e pequenas empresas. As médias já podem pensar em outra ordem de investimento, bem como, utilizar profissionais melhor remunerados.
Surpreende-me ver como muitas empresas grandes se apequenam quando se fala em investimentos em uma mídia segmentada como a internet. Para estas fica um recado: da próxima vez que um adulto lhe oferecer um pirulito, pense em como ele foi fabricado, quais as intenções de quem fez a oferta e se você ainda gosta de pirulito. Pode ser que seu tempo de brincar com os outros pequenos tenha acabado.
Até mais!