Sou frequentadora assídua de museus, onde quer que eu esteja, eles estão no topo da lista de programas a serem feitos. Para mim, visitar um museu é como começar uma viagem e mantenho uma relação existencial com este movimento, no sentido de Michel Onfray. “A viagem, de fato, é uma ocasião para ampliar os cinco sentidos: sentir e ouvir mais vivamente, olhar e ver com mais intensidade, degustar ou tocar com mais atenção – o corpo abalado, tenso e disposto a novas experiências, registra mais dados que de costume”.
A necessidade de vivenciar este furacão de sensações presenciais é um dos motivo pelos quais nunca aceitei com grande empolgação os museus virtuais e seus tours on line. “Nada se compara com a excitação e frustração de encarar, face a face a Guernica e Monalisa”, pensava eu.
Mas, algumas notícias das últimas semanas me levaram a rever meu ponto de vista. Do Estado Islâmico destruindo estátuas milenares ao anúncio de fechamento de pelo menos dois grandes museus brasileiros, fui levada a acreditar que o mundo real está se dissolvendo e os museus virtuais, páginas e tours online, tornaram-se uma via – muitas vezes a única – para manter e conservar o registro da história da humanidade e ampliar seu acesso, ou melhor, proteger nossa memória de nós mesmos.
Destruindo nossa história
Dias depois de mergulhar na destruição de peças pelo Estado Islâmico, li sobre o Project Mosul que está reunindo imagens das peças destruídas para criar versões digitais em 3D. Seu objetivo é montar um museu virtual para relembrar as relíquias destruídas. Isto é, peças que a partir de agora só virtualmente teremos acesso. Há poucos dias, a Unesco já sinalizou a ameaça do tesouro arqueológico de Palmira, fundada no segundo milênio antes de Cristo com vestígios do período Neolítico, também invadida pelo Estado Islâmico.
Claro que o Estado Islâmico não é o único algoz que impulsiona a destruição da arte no mundo. Má conservação, corrupção e desvio de recursos, guerras, terremotos, enchentes, desvios de rios, construção de usinas e rodovias, inúmeros são os fatores que dissolveram e dissolvem a história da humanidade. Hoje, muito do que somos, acessamos apenas virtualmente: vídeos, fotos e textos.
Fechando Museus
No Brasil, o Instituto Brasileiro de Museus mantém um Cadastro Nacional de Museus em que podemos encontrar suas localidades, mas não há dados que mostrem abertura e/ou fechamento destes locais.
Quando uma porta fecha-se, um caminho para continuarmos tendo acesso à sua história é por meio de registros armazenados virtualmente, mas nem sempre este caminho existe. Em agosto de 2013, o Museu Paulista, mais conhecido como Museu do Ipiranga fechou suas portas. Neste caso, com data marcada para sua reabertura. Mas, até o ano de 2.022, a não ser que o comprometimento com a cultura mude, seu acervo e biblioteca estão inacessíveis.
Seria diferente se tivéssemos uma estrutura digital.
Democratização do conhecimento
Viajar é caro e, mesmo viajando, muitas vezes pagar as taxas nos museus torna-se uma pequena fortuna.
Os museus virtuais mudam este cenário. National Portrait Gallery, The British Museum, Louvre e inúmeros outros nos permitem entrar em seus corredores e conhecer seu acervo sem sair de casa.
Complementaridade da obra
A organização das informações em um museu virtual permite acessarmos as histórias por trás de uma obra, a história de vida de um pintor, o momento político, o movimento artístico. É a possibilidade de criarmos nosso próprio itinerário e aprofundarmos a viagem, complementando nossa visita presencial ou nos mantendo virtualmente.
Novas experiências
O estar presente, de corpo e alma, em um museu é, para mim, a melhor experiência de contato com arte, mas não o único. A partir de agora, minhas visitas aos museus serão precedidas por um tour virtual, continuando a experimentar o estranhamento de Chklovski: a arte apresentando as coisas numa nova e estranha forma, desfamiliarizando o conhecido.